Dia Municipal de Luta Contra a Gordofobia: estudantes protagonistas no combate ao preconceito

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Escola Municipal Reitor João Alfredo conta com um grupo de debates sobre importantes temas para a sociedade. Foto: Paulo Melo/PCR

Uma data criada sem o objetivo de festejar, mas de combater. O Dia Municipal de Luta Contra a Gordofobia, estabelecido neste 10 de setembro, não celebra, mas faz lembrar uma responsabilidade que é de todos: o combate ao preconceito. E foi pensando nessa luta e na importância do acolhimento que a Escola Municipal Reitor João Alfredo, na Ilha do Leite, criou o grupo ‘Qualidade de Vida’. Nele, estudantes da unidade debatem - todas as quintas-feiras - sobre importantes temas que estão cada vez mais presentes na sociedade, entre eles, a gordofobia. 

O grupo surgiu ainda na fase de isolamento da pandemia causada pelo Covid-19. Há quase três anos, a equipe contava com cerca de dez estudantes, que de forma online participavam de rodas de conversa com professores sobre bullying, racismo, machismo, saúde mental e gordofobia. As aulas presenciais voltaram, os alunos retornaram à escola e o grupo seguiu firme, contando hoje com aproximadamente 20 participantes. 

“Sou gorda e já sofri muito por ser assim. Depois de muitos episódios inconvenientes por causa do meu corpo eu pensei: por que não falar sobre isso?”. O questionamento foi o empurrão que Alice Limeira, de 14 anos, precisava para fazer parte dos debates. “Hoje me sinto muito mais segura com o meu corpo e com quem eu sou, mas já foi muito difícil. Passei por problemas alimentares só para tentar perder peso, mas agora estou muito melhor”, confessou a estudante, que frequenta o Qualidade de Vida desde o ano passado. 

O caso de Alice, infelizmente, não é isolado. Mas, felizmente, tem se tornado mais raro nos locais que fomentam o tema. “Já sofri bullying várias vezes, mas desde que entrei aqui na escola não aconteceu. Por isso é tão importante se informar e ajudar as pessoas que sofrem a não ficarem caladas. É um assunto importante a se debater, pois é cada vez mais inadmissível passar por esse tipo de situação”, emendou Samuel Vasconcelos, estudante do 8º ano. 

O Recife foi a primeira capital brasileira a contar com leis antigordofobia. As legislações, sancionadas pelo prefeito João Campos no ano passado, são de autoria da vereadora Cida Pedrosa, fazendo da capital pernambucana um local de promoção de conscientização e combate ao preconceito, além de promover a inclusão de pessoas gordas. 

A Lei 18.832/2021, inclusive, assegura carteiras escolares adequadas a esses biotipos corporais nas instituições de ensino básico e superior do Recife, sejam elas públicas ou privadas, além de garantir um ensino livre de discriminação ou práticas gordofóbicas. Essas carteiras já foram adquiridas pela Prefeitura do Recife e são distribuídas sob solicitação dos estudantes e unidades escolares. 

“A gente não pode normalizar nenhum tipo de preconceito. Todos os corpos são bonitos e cada um tem a sua importância. Ninguém tem que estar dentro dos padrões da sociedade, isso é muito desnecessário. Se todo mundo fosse igual não teria graça. O corpo não diz o que a pessoa é”, arrematou a estudante do 9º ano, Stefanny Júlia. 

ACOLHIMENTO

Idealizadora do grupo, a professora do Atendimento Educacional Especializado (AEE) da unidade, Nefertiti Sá, detalhou a necessidade da criação deste canal. “Estávamos convivendo com o isolamento provocado pela pandemia e eles estavam carentes dessa escuta e dessa troca. O que fizemos foi dar a oportunidade para que eles tenham voz e local de fala. Hoje já colhemos os frutos dessa interação e presenciamos um olhar diferenciado deles com os colegas, com maior acolhimento e preocupação em querer o outro bem”, explicou.

Ao lado da docente, a professora de História, Célia Gomes, também comanda o grupo. Ela reforçou a importância de estar lado a lado com esses jovens, que vivenciam de forma tão intensa esta fase da vida. “Oferecemos um espaço de escuta e reflexão, mas é importante destacar que, quando eles vão falando, eles também nos ensinam. Esses estudantes nos levam a refletir sobre temáticas importantes para a evolução da sociedade”, destacou. 

A evolução de todos é sempre lembrada pelos próprios estudantes, que hoje se enxergam e enxergam o próximo de uma maneira totalmente diferente. “Ficou muito mais fácil identificar quando sofremos algum tipo de preconceito e também poder ajudar pessoas que estão passando por isso”, sinalizou Noemi da Silva, de 14 anos. “Muitas vezes as pessoas não nos dão importância ou falam que a gente não tem idade pra debater esses temas. Não é verdade. Depois que a gente começou esse trabalho, me sinto muito mais à vontade para ser quem eu sou e compreendo muito melhor as situações”, finalizou a estudante Maria Alícia. 

 

Fotos: Paulo Melo/PCR