Estudantes com autismo e paralisia cerebral recebem tablets com aplicativos que facilitam comunicação

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A entrega dos 500 equipamentos faz parte da programação do Movimento Abril Azul Foto:Ronaldo Almeida/ SETE

Duzentos e sessenta alunos com autismo e paralisia cerebral que têm dificuldade na fala receberam, na tarde desta quarta-feira (6), tablets com o aplicativo Livox, que vai facilitar a comunicação deles com os familiares, professores e demais estudantes da rede municipal de ensino do Recife. O secretário de Educação do Recife, Jorge Vieira, ainda entregou outros 240 equipamentos para as 111 escolas que têm salas de recursos multifuncionais, que é onde os professores especializados em Educação Especial atendem individualmente os estudantes com deficiência, no contraturno das aulas a que eles assistem nas turmas regulares, com os demais estudantes. A entrega, que aconteceu na Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Educadores do Recife (Efaer) Professor Paulo Freire, na Madalena, faz parte do terceiro dia de programação do Movimento Abril Azul, que marca o Mês da Conscientização do Autismo.

A Prefeitura do Recife investiu R$ 5,5 milhões na aquisição dos 500 tablets e na compra das licenças para uso do Livox. "A entrega de hoje faz parte da proposta de inclusão pedagógica da Secretaria de Educação do Recife. Investir na Educação, e sobretudo na Educação Especial, é prioridade para a prefeitura, mesmo neste ano de crise. O tablet com o Livox e vários outros aplicativos com conteúdos pedagógicos vai abrir diversas possibilidades para esses alunos. Será uma ferramenta importante não só para eles, como também pros pais e professores, que agora vão poder saber o que se passa na cabeça dessas crianças que não falam", disse Jorge Vieira. 

O evento também contou com palestra do analista de sistemas e empresário Carlos Pereira, o pernambucano que desenvolveu o software em 2011, a partir da necessidade de se comunicar melhor com a filha, Clara Costa Pereira, 8 anos, que tem paralisia cerebral. Ele falou sobre a importância da ferramenta aos diversos pais, professores e gestores escolares que lotaram o auditório da Efaer Paulo Freire. "Minha filha não fala e não anda, mas tem a inteligência de uma criança da idade dela. Embora Clarinha não consiga pegar num papel e num lápis, ela se alfabetizou usando o Livox e faz contas de matemática com ele. Vocês têm que acreditar no filho de vocês". 

O Livox é usado na Escola Municipal do Engenho do Meio de forma piloto, desde 2014, por Jhonatan Lins, 18 anos, aluno da Educação de Jovens, Adultos e Idosos (EJA). O jovem não fala, mas entende o que escuta e também compreende a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Ele está conseguindo se comunicar melhor, tanto na escola quanto em casa, depois que começou a usar a ferramenta instalada no tablet, além de estar aprendendo a escrever. Nesta quarta, Jhonatan conheceu Clarinha e reproduziu para todos os presentes, através do Livox, a mensagem que criou para Carlos: "Quero agradecer a Carlos por ter feito todo mundo ouvir o que eu quero falar".

A mãe do aluno, Ginny Giuliana, contou às outras mães o quanto a ferramenta melhorou o convívio de Jhonatan com as pessoas. "Vocês vão ver o quanto é bom ver nosso filho se desenvolvendo. É muito importante ver que Jhonatan , que não conseguia nem falar, consegue expressar, de alguma forma, o que ele sente. Gostaria de agradecer mais uma vez a Carlos por ele não ter guardado esse aplicativo só pra filha dele. E agradeço também à prefeitura por ter nos dado o tablet com esse aplicativo, pois sabemos o quanto é caro e nós jamais teríamos condições de comprar um". 

A professora Jeyse Oliveira, especialista em Educação Especial que faz o atendimento individualizado com Jhonatan após a aula dele na sala regular, recebeu tablets para utilizar com outros alunos deficientes na sala de recursos multifuncionais da Escola Municipal do Engenho do Meio, que é referência em Educação Especial. Ela representou as docentes das 111 salas de recursos que receberam os equipamentos para uso nas escolas municipais. "Fico feliz em ver que a ferramenta que mudou a vida de Jhonatan vai mudar a vida de muitos outros estudantes. Vocês vão ver que os alunos e filhos de vocês terão uma qualidade de vida diferenciada. É um aplicativo fácil de usar e que consegue dar voz a quem antes não conseguia se fazer compreender", disse a professora. 

Em fevereiro, cerca de 250 professores participaram de uma formação sobre o Livox. O objetivo foi apresentar aos docentes do Atendimento Educacional Especializado (AEE), ou seja, que têm especialização em Educação Especial, as possibilidades do aplicativo e seu potencial para uso pedagógico com os alunos que têm alguns tipos de deficiências, sobretudo os que têm dificuldade na fala. 

A professora Djanice Leonardo da Silva, da Creche-escola Ana Rosa Falcão, também recebeu o aplicativo e disse já ter pesquisado bastante sobre o Livox desde que soube que teria acesso à ferramenta. "Com o tempo de convivência, conseguimos estabelecer uma comunicação com esses alunos que não falam, mas agora vai ser muito mais fácil. Estamos numa expectativa muito grande pra começar a usar esse software. Temos certeza que ele vai nos dar um suporte grande no desenvolvimento dos alunos que não falam". 

A expectativa também é muito grande por parte dos pais, como é o caso de Eliane Mota, mãe de Pedro Henrique, 6 anos, aluno da Escola Municipal Professor Júlio de Oliveira, que tem autismo e hiperatividade. "Meu filho é atendido individualmente na sala de recursos duas vezes por semana. Ele se desenvolveu muito depois que entrou na rede municipal, há três anos. As professoras e gestoras nos dão um suporte que outras escolas privadas não nos deram. Ele não fala, mas entende o que dizemos. Agora, com esse tablet e o Livox, vou poder ter um retorno dele", comemorou a dona de casa.

Fotos:Ronaldo Almeida/ SETE