Professores, alunos e famílias discutem altas habilidades e superdotação em simpósio da PCR

imagem de Bella
Uma das palestras foi sobre o Núcleo de Altas Habilidade/Superdotação do Recife, que é referência no atendimento em Pernambuco. O simpósio continua nesta sexta. Foto: Carlos Augusto/PCR

Mais de 400 professores da rede municipal de ensino do Recife e de outras cidades do Estado, estudantes e famílias participam, nestas quinta (4) e sexta (5), do II Simpósio sobre Altas Habilidades/Superdotação da Rede Municipal de Ensino, na Escola de Formação Professor Paulo Freire, na Madalena. Na abertura do simpósio, os alunos com altas habilidades atendidos pela Prefeitura do Recife atuaram como mestres de cerimônia. Eles apresentaram cada um dos convidados para a mesa de abertura e também os palestrantes, que discutiram como identificar os estudantes com precocidade e altas habilidades/superdotação, mitos e verdades relacionados ao tema e o papel da família no desenvolvimento das altas habilidades. Os participantes também tiveram a oportunidade de conhecer mais o Núcleo de Altas Habilidade/Superdotação (NAAHS) da Secretaria de Educação do Recife, que atende gratuitamente, em Casa Amarela, jovens de 3 a 17 anos de todo o Estado.

"Ficamos muito felizes em ver esses alunos com altas habilidades sendo protagonistas deste encontro. Aqui neste 2º Simpósio, estamos recebendo profissionais de várias cidades para uma troca de experiências que é muito importante. Precisamos levar as experiências do NAAHS Recife para outros locais de Pernambuco. Avançamos muito, mas ainda temos muito o que melhorar", avalia Rogério Morais, secretário-executivo de Gestão Pedagógica da Secretaria de Educação do Recife.

A chefe da Divisão de Educação Especial, Lauricéia Tomaz, ressaltou a importância de as escolas entenderem a complexidade desses alunos para conseguirem tirá-los da invisibilidade. "Nem mesmo nos cursos de pós-graduação em Educação nós vemos disciplinas específicas sobre altas habilidades e superdotação. Mas a Secretaria de Educação do Recife tem desempenhado um papel muito importante no fortalecimento dos professores, através das formações, para que eles vejam esses estudantes. O NAAHS tem fortalecido muito os professores, alunos e pais", comentou a docente.

O psicólogo Ricardo Barbosa dos Santos, da Secretaria de Educação do Recife, fez palestra sobre a importância da família na condução das crianças com altas habilidades. "Os pais normalmente acham que o filho é bom em tudo, que é um gênio, mas, normalmente, as habilidades só são acima da média em uma área específica. Se ele é bom em desenho, não necessariamente é bom em matemática, por exemplo. As cobranças podem terminar prejudicando a criança. Por isso, não só os alunos precisam de acompanhamento pedagógico e emocional, mas também os pais. Num ambiente em que as famílias entendem as especificidades dos filhos e dão o acompanhamento adequado, a criança tem tudo pra se fortalecer", avalia Ricardo, que também tem um filho de 7 anos que começou a ler precocemente.

Já Jussara Vieira, coordenadora do NAAHS Recife, contextualizou o surgimento desses núcleos no País e explicou o funcionamento do NAAHS da capital pernambucana. De acordo com a docente, o NAAHS Recife surgiu em 2007 e é o único existente em Pernambuco, o único que é municipal (os outros 16 do Brasil são estaduais), além de ser o único do País que atende crianças da Educação Infantil (3 a 7 anos). Atualmente são atendidos 112 estudantes de 3 a 17 anos, sendo 58 da rede municipal do Recife e o restante de outras redes públicas e privadas. A prioridade é atender os estudantes das escolas públicas, restando 20% das vagas para os colégios privados. Cada aluno vai ao NAAHS uma vez por semana, no turno em que não está na escola. Mais de mil estudantes já foram atendidos pelo núcleo ao longo destes 11 anos de funcionamento.

O NAAHS tem um grupo de crianças precoces, que têm de 3 a 6 anos e espontaneamente desenvolvem habilidades antes do esperado para a faixa etária. Essas crianças podem desenvolver altas habilidades ou não. Quem tem altas habilidades é encaminhado para os grupos de interesse em comunicação, leitura, robótica, artes visuais, música, artes cênicas, raciocínio lógico, entre outros, em que eles desenvolvem projetos com base nas suas habilidades. O núcleo realiza um trabalho pedagógico de orientação aos pais e estudantes sobre como lidar com alguns comportamentos, como dificuldade de socialização, resistência a seguir regras e limites, desinteresse em realizar as atividades propostas em sala de aula e em outros ambientes.  

Para identificar os alunos com altas habilidades na rede municipal, a equipe do NAAHS visita as escolas, aplica questionários e faz entrevistas com os estudantes e com a família. Os professores de outras redes de ensino, assim como os pais que acharem que seus filhos são precoces ou têm altas habilidades, podem procurar o núcleo e solicitar uma avaliação. O estudante fica em observação durante seis meses para se constatar o comportamento acima da média. 

"Nosso objetivo principal é promover a inclusão educacional dos alunos com indicadores de Altas Habilidades e Superdotação, apoiar e orientar as famílias, além de promover formações pros profissionais de Educação. Essas crianças e famílias precisam ser acolhidas e precisam de oportunidades educacionais. Temos que identificá-las para dar visibilidade a elas e propor intervenções pedagógicas, trabalhando suas dificuldades e respeitando os diferentes ritmos de aprendizagem", defende Jussara Vieira.

Cristiane Maria Nascimento, dona de casa, diz que desde cedo notou que o filho Bruno Luiz da Silva, 10 anos,  era "diferente, acima da média". Há dois anos, ela enfrenta duas horas de ônibus e metrô, uma vez por semana, para sair do Cabo até o NAAHS Recife, em Casa Amarela. "Com 3 anos, Bruno começou a ler na escola e, aos 5, já lia muito bem. Ele é muito comunicativo. Uma professora dele do 1º ano o encaminhou pro NAAHS e desde então ele melhorou muito na leitura e na concentração, além de ter passado a interagir melhor com os colegas da idade dele. Ele ama o núcleo. Se pudesse ia todo dia. Vale a pena o esforço pra ir", avalia Cristiane.

O estudante Felipe Rijo, 13 anos, é outro apaixonado pelo NAAHS Recife. Aluno do 8º ano de uma escola estadual, ele e os demais colegas do grupo de artes visuais fizeram desenhos, pinturas e esculturas para expor no térreo da Escola de Formação Paulo Freire. "Meu forte é o desenho, mas nesta exposição eu fiz esculturas. Meu pai quem notou que eu tinha jeito pra desenhar. Ele já desenhava bem e eu pedi pra ele me ensinar, mas ele se espantou porque aprendi muito rápido e começou a pesquisar sobre isso. Depois que fui pro NAAHS, melhorei muito o desenho. Eu gosto muito do núcleo", conta Felipe.

SERVIÇO - Os pais e professores que acharem que o filho ou aluno são precoces ou têm altas habilidades podem procurar o núcleo e solicitar uma avaliação. O NAAHS funciona na Estrada do Arraial, n° 4774 , Casa Amarela, no 1º andar  do prédio da Associação de Pais e Amigos de Excepcionais (Apae). O telefone do núcleo é o 3355-6904. 

Fotos: Walyson Morais e Mayra Coelho/SETE