Representatividade em Cena: Escola da rede do Recife recebe lançamento do livro “As Bonecas de Nyashia”

imagem de Guilherme Vila Nova
Escrito pela poetisa e professora da rede municipal Odailta Alves, livro trata questões raciais com sensibilidade e ludicidade e convida crianças a refletirem sobre identidade, diversidade e enfrentamento ao racismo. Foto: Kleyvson Santos/PCR

A Escola Municipal Professor José Soares da Silva, no bairro de Nova Descoberta, foi palco, nesta sexta-feira (11), da apresentação do livro infantil “As Bonecas de Nyashia”, escrito pela poetisa recifense e professora da rede municipal de ensino, Odailta Alves. A obra, publicada através do edital do Sistema de Incentivo à Cultura (SIC), trata, de forma leve, questões raciais e discute a representatividade negra no universo infantil.

O livro aborda, entre outros temas, a relação de crianças negras com bonecas brancas e a ausência de brinquedos que reflitam sua identidade. “É muito importante tratar esse tema porque coloca em cena uma família negra estruturada, de classe média, quebrando a narrativa que associa negritude apenas à miséria ou à pobreza. Quero mostrar outras possibilidades de ser negro”, explica Odailta Alves.

A autora também destaca que a obra é voltada para todas as idades, mas dialoga especialmente com o público entre 10 e 13 anos. O processo de escrita foi longo e inclui elementos culturais do Recife, como o baobá e a estátua de Solano Trindade. O livro conta ainda com um QR Code que leva a uma narração feita pela própria autora, garantindo acessibilidade para pessoas surdas.

Durante a apresentação na escola, Odailta misturou trechos do texto original com sua interpretação pessoal da história, abrindo espaço para uma conversa com os estudantes sobre a importância da representatividade, estratégias de enfrentamento ao racismo e valores como acolhimento, solidariedade e respeito à diversidade.

Os estudantes ficaram encantados com a história. Emily Yasmin Santos, de nove anos, estudante do 4° Ano C, se identificou com o que foi falado. “Eu gostei da história porque fala de gente negra e mostra que é legal ter bonecas e brinquedos da cor da nossa pele, pra todo mundo ficar feliz e o racismo acabar de vez”, disse a estudante.

“Na rede pública, onde a maioria dos estudantes é negro, falar de representatividade é extremamente necessário. Precisamos discutir essas questões de forma lúdica, para que crianças negras se reconheçam e se sintam valorizadas, e para que crianças não negras também compreendam a importância do respeito e da valorização das diferenças”, afirma a poetisa.

“É um momento muito importante para nossa Unidade, pois trata-se de um tema que precisa ser sempre revisitado, as crianças se sentiram pertencentes, se reconheceram na história.  Sem contar que fomenta a leitura e desenvolve a imaginação, criatividade e o gosto pela literatura”, comentou a gestora da unidade, Lucicleide Amancio.

Odailta Alves já publicou outro livro infantil e tem mais dois títulos prontos para serem lançados. Segundo ela, obras como “As Bonecas de Nyashia” contribuem para que a escola seja também espaço de reflexão social e construção de novos olhares sobre a identidade negra.