Do lanche ao adubo: estudantes da rede aprendem a cuidar do meio ambiente através de resíduos orgânicos dos lanches

imagem de Guilherme Vila Nova
Projeto de compostagem promove consciência ambiental desde a infância na comunidade de Entra Apulso. Foto: Kleyvson Santos

Na Escola Municipal Abílio Gomes, localizada na comunidade de Entra Apulso, no Recife, o que antes era descartado como lixo agora virou lição de sustentabilidade. A unidade desenvolve, em parceria com o Coletivo Chié do Entra, um projeto de compostagem que ensina os alunos do 5º ano a transformar resíduos orgânicos dos lanches em adubo natural, utilizado na horta escolar e no espiral de ervas medicinais.

A iniciativa ganha ainda mais relevância neste período, com a chegada da Semana da Compostagem, que será celebrada no início do mês de maio. Na escola, uma composteira é alimentada diariamente pelos próprios estudantes, que separam cascas de frutas e restos de alimentos do lixo comum e os destinam a recipientes específicos. Todo o processo é acompanhado pelo coletivo parceiro, responsável pelo tratamento adequado dos resíduos.

“Os professores estão o tempo todo reforçando a importância da reciclagem, do reaproveitamento, e isso tem feito muita diferença. Esse ano, o tema do ano letivo é voltado ao meio ambiente, então estamos conseguindo trabalhar esse assunto com mais efetividade. E o mais bonito é que as crianças se tornam multiplicadoras disso tudo”, afirmou a vice-gestora da unidade, Giovanna Mello. “O que a gente faz aqui na escola, elas levam pra casa e compartilham com a família. É esse trabalho de formiguinha que vai, aos poucos, transformando não só a comunidade, mas todo o ambiente em que elas vivem”, reforçou. 

A compostagem, além de reduzir significativamente o volume de lixo que vai para os aterros sanitários, contribui para o fortalecimento da agricultura urbana e da saúde do solo, devolvendo à terra os nutrientes que antes eram desperdiçados. A prática é incorporada ao cotidiano escolar como ferramenta educativa, conectando teoria e prática.

O projeto é apoiado pelo Coletivo Chié do Entra, iniciativa comunitária criada em 2021 que atua com educação ambiental e agroecologia na própria comunidade. O nome “Chié” faz referência ao caranguejo típico dos manguezais da região, símbolo da relação com a natureza local. De acordo com Mayra Santos, integrante do coletivo, a vivência com os alunos vai além da técnica: “É muito gratificante, porque além de estarmos compostando dentro das escolas, as crianças aprendem, na prática, que o descarte correto é aquele feito com consciência, como é o caso da compostagem. Elas entendem que descartar não é apenas se livrar do que não serve mais, mas transformar o que sobra em algo novo, que volta para a terra”.

A estudante Tallitha Kasllanny, de 9 anos, conta que o aprendizado vai além dos muros da escola. “Eu aprendi a não desperdiçar aqui na escola e faço na minha casa também. Acho muito legal”, disse. Já Miguel Valmir, também de 9 anos, destaca o funcionamento da composteira. “Eu acho interessante como ficam as sobras depois de colocar na compostagem.”

Além da compostagem, o coletivo também desenvolve ações de reaproveitamento de óleo de cozinha usado, com bolsas de pesquisa concedidas pelo Instituto Shopping Recife a moradores da comunidade. A iniciativa envolve voluntários e pequenos empreendedores, fortalecendo a economia solidária e ampliando o impacto social.

Com práticas simples, como separar uma casca de fruta, os alunos aprendem que pequenas ações podem gerar grandes mudanças. O exemplo da Escola Municipal Abílio Gomes mostra que sustentabilidade, educação e comunidade podem caminhar juntas, formando uma geração mais consciente e comprometida com o futuro do planeta.